A insatisfação com o volume de dividendos que serão pagos aos acionistas explicam a forte queda das ações da Petrobras no pregão desta sexta-feira (8) na B3, a bolsa de valores de São Paulo. A avaliação é do diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo.
“Talvez, tenha sido frustrada um pouco [a expectativa de distribuição] do dividendo que foi gerado nesse trimestre. Foi impactado por eventos não recorrentes que não acontecerão nos próximos períodos. Então, circunstancialmente, o mercado tem esse comportamento que a gente entende que deve ser passageiro”, avaliou Melgarejo.
No momento da entrevista, as ações ordinárias da companhia despencavam cerca de 7%, comportamento que seguia até a conclusão dessa reportagem. Movimento semelhante acontecia na bolsa de valores de Nova York (NYSE).
Apesar de ser estatal, a Petrobras é uma empresa de capital aberto, isto é, tem ações negociadas em bolsa de valores. O governo é controlador com 50,26% das ações com poder de voto. Nesse grupo controlador, está incluído também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco público de fomento do governo federal.
O governo federal deve receber cerca de 29% do valor (proporcional à detenção de ações ordinárias e preferencias). Outros 8% vão para o BNDES. As ações ordinárias dão direito de voto; já as preferenciais, prioridade no momento de receber dividendos.
Apesar do tombo das ações, Melgarejo afirmou que o mercado reconhece como “bastante positivos” os resultados operacionais da companhia. Segundo ele, dos 16 analistas de mercado que fazem recomendações de compra ou venda de ações, 75% indicam compra.
No mercado de ações, quanto mais gente se interessa por comprar uma ação, maior o preço do papel e, consequentemente, da empresa negociada.
“A companhia acredita muito na nossa tese de criação de valor para este ano. Estamos em uma lógica de recomposição de reserva, produção maior. Então, tudo isso é um ponto positivo para a companhia”.
Petróleo em baixa
Questionado sobre a possibilidade de a Petrobras pagar dividendos extraordinários ─ além do previsto ─ no futuro, o diretor financeiro respondeu que “adoraria”, mas ponderou que, para isso, será preciso ter excesso de caixa superior à necessidade da companhia.
“Só é possível se tiver uma geração de caixa operacional suficiente para cumprir todo o capex [sigla do inglês para capital expenditure ─ recursos para investimento] que a gente tem, todo o opex [operational expenditure, despesas operacionais do dia a dia] que a gente tem e mesmo assim sobrar recurso”.
O diretor afirmou que um possível impeditivo para alcançar os números é o preço do petróleo, que tem apresentado tendência de queda no mercado internacional. No segundo trimestre de 2025, o barril de petróleo tipo Brent (referência no mercado internacional) foi negociado em média a US$ 67,82 ─ 10% abaixo do preço do primeiro trimestre.
Melgarejo enfatizou que a capacidade para pagar dividendos extraordinários depende de duas variáveis: preço do petróleo e quantidade vendida.
“Em quantidade a gente vem evoluindo, mas o preço realmente cedeu, e, se continuar nesse patamar, a gente vê menos chances de que a gente consiga ter pagamento de dividendo extraordinário para este ano”, admitiu.
Petroleiros
Em contraste ao mercado financeiro, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa trabalhadores do setor, considera um avanço não ter dividendos extraordinários nesse trimestre, ou seja, a categoria defende que essa parte dos lucros continue dentro da empresa para ampliar investimentos.
“Houve uma redução no ritmo de expropriação da riqueza da maior empresa do país. Estamos alertas para que esta seja uma tendência na política da companhia”, manifestou em nota o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
A política de dividendos da Petrobras determina que, em caso de endividamento bruto igual ou inferior ao nível máximo definido no Plano de Negócios em vigor (atualmente US$ 75 bilhões), e observadas as demais condições da política, a Petrobras deverá distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre.